Juliana Dias

WIP: O que ganhei quando perdi o medo.

Feb 16, 2019

Foto da minha mesa de escritório bagunçada mostrando no monitor alguns bloquinhos azuis do GitLab.Aqui vai um breve relato de algumas experiências que vivi e que ainda vivo como uma pessoa que aos poucos foi aprendendo a lidar com o medo.

Bom, não faz muito tempo em que minha vida teve uma mudança um tanto quanto drástica, afinal de contas eu me mudei da minha cidade natal, onde passei a minha vida toda.

Nos tempos em que eu ainda morava na cidade natal, eu vivia uma vida baseada em aceitação de terceiros e tudo que fazia era por e pelos outros, eu nunca fui a prioridade, mas isso era por motivos de eu não me ver feliz e me aceitar como era e como vivia. Viver um teatro era a melhor forma de escapar de mim.

Não é novidade para ninguém a mulher que sou, mas por medo de perder amigos, medo de perder o amor dos familiares, medo de apanhar, medo de sofrer violência física e verbal, medo de ser assassinada, medo de nunca mais ter um emprego, medo de tudo, foi que eu preferi viver o teatro, interpretando um personagem e sempre fugindo de mim, sempre fugindo da verdade.

Eu me escondi por trás de tantas máscaras, eu fingia ser alguém que não era que estava quase acreditando nisto, mas não há como você fugir de si mesma, e quando eu de tanto correr, de tanto fugir eu cheguei a exaustão, foi uma batalha longa, duradoura e incansável (e tudo isso poderia ter sido evitado).

Em tempos de exaustão eu comecei a cultivar em mim a necessidade de me amar e me aceitar como eu sou, eu fui plantando aos poucos um ato daqui, um ato dali (ainda sigo pois é um exercício eterno), e foi quando eu comecei a olhar mais pra mim, apreciar um pouco mais a companhia daquela pessoa que eu tanto odiava, a mim mesma.

Eu vivi cerca de 14 anos sob uma pressão psicológica, um terror constante de que tudo que eu era, era errado, tudo que eu fazia me condenava, e a única solução era me negar, fugir de mim como fiz. Eu deixei de viver por medo, eu deixei de viver como deveria por terror, eu deixei de viver por achar que eu não merecia.

Mas aos poucos, com o meu cultivo eu fui trabalhando melhor nisso e foi quando eu na minha área profissional eu fui crescendo aos poucos, a passos lentos, mas eu fui crescendo (numa visão/perspectiva da Juliana do passado com a Juliana do presente), foi então que consegui uma vaga de emprego na cidade onde moro enquanto escrevo este post.

Com esta mudança de cidade, surgiu em mim um pingo de esperança, pois eu tive a chance de um recomeço, e desta vez eu não poderia mais perder a oportunidade, o meu cultivo estava começando a crescer, eu via que isso iria dar frutos.

Eu ainda me envolvia com velhos amigos dos quais me conhecia antes do cultivo, muitas de suas atitudes foram como geadas na minha plantação, mas fui resistindo aos poucos, cansada, mas seguindo em frente. Breve tempo depois, eu iniciei meu acompanhamento médico, do qual iria me ajudar a seguir o caminho de uma forma mais saudável, ou pelo menos, supervisionada.

Quando finalmente meu cultivo estava começando a florescer da primeira vez, foi quando veio uma tempestade forte, e eu tive que provar as minhas raízes e resistir. Foi então que familiares se recusaram a me respeitar como Juliana, quando perdi meu emprego, quando perdi amizades, quando perdi quase tudo, mas eu não perdi a pessoa mais importante, eu mesma.

Mas eu já imaginava que não seria fácil, porém, eu não havia escolhas a não ser resistir, voltar atrás era impensável, eu não podia voltar pro lugar onde tanto me adoeceu, eu sabia que um retorno seria meu fim.

Eu tive que aprender a lidar e gostar da minha própria companhia, eu tive que aprender a encarar o medo de não conseguir viver dignamente como tal, eu tive que botar a cara a tapa, e foi quando eu comecei a procurar novas vagas e só haviam recusas, enquanto eu tentava inúmeras estratégias…

Foi quando encontrei uma pessoa (hoje minha amiga) que estava procurando de uma parceira para um projeto de verão onde só meninas participaríam. O que me surpeendeu bastante pois eu no meio de tantas recusas, nós conseguimos passar neste projeto, e para a minha intensa felicidade, eram um projeto “gringo”, apesar da falta de confiança no Inglês conquistamos a vaga.

Parte destas situações foram me mostrando que ás vezes temos uma visão muito pessimista de nós mesmas(os), e isto nos faz ter uma localização mais coerente. Posteriormente houve algumas conquistas, vitórias, mas também houve perdas, derrotas (e bastante), contanto tudo isso foi me fortalecendo, como um adubo com outros nutrientes para a minha plantação.

Eu mudei bastante atitude durante esse processo, eu comecei a me conhecer, a descobrir como eu reajo diante de algumas situações e trabalhei bastante nisto, experimentando formas, práticas, métodos variados para saber o que me daria um melhor resultado.

Mas para eu ganhar e ou aprender a ter as atitudes que tenho hoje, foi baseada em bastante perdas, e não sou feliz com isso, não acho que isso precisava ser necessário, mas eu achando ou não (e você que está lendo também) aconteceu, tudo isto ocorreu e foi me levando ao caminho que sigo hoje em dia.

Hoje em dia eu posso pensar e agir de uma forma que amanhã eu posso reprovar fortemente, quem sabe depois de amanhã eu torne a ser como sou hoje, ninguém saberá, o que eu sei é que hoje eu tento viver o amor próprio, e como citado em um versículo bíblico (cristão) “Ame o próximo COMO A TI MESMO”. Não adianta amar o próximo sem se amar e nem se amar sem amar o próximo na mesma proporção.

Então essa foi uma breve história (em WIP sempre) de algumas coisas que aconteceu na minha vida (de uma forma mais abstrata) que relatam o que ganhei quando perdi o medo.